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2012 - Livro Vermelho 2013

Caesalpinia echinata Lam. EN

Informações da avaliação de risco de extinção


Data: 21-06-2012

Criterio: A4acd

Avaliador: Tainan Messina

Revisor: Miguel d'Avila de Moraes

Analista(s) de Dados: CNCFlora

Analista(s) SIG:

Especialista(s):


Justificativa

O pau-brasil é uma espécie de grande importância econômica com histórico de mais de 500 anos de exploração. É típica da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo, e ocorre em Floresta Estacional Semi-decidual, Floresta Ombrófila Densa e em Restingas, ambientes que vêm sendo severamente degradados desde a colonização até os dias de hoje, o que causou um intenso declínio na qualidade do hábitat, na EOO, AOO e a extinção de subpopulações. Essas extinções locais foram responsáveis pela fragmentação da espécie, que passou a apresentar distribuição agregada, causando redução da variabilidade genética, com fluxo gênico cada vez menor entre as subpopulações. Apesar da extração da madeira para o mercado de corante ter cessado em meados de 1800 devido à produção de corante sintético, a extração da madeira para confecção de arcos para violino ganhou notoriedade. A demanda de uso é conhecida no passado e projetada para o futuro, estimando-se uma redução populacional de pelo menos 50% em 100 anos (pretérita e futura), pois a qualidade do arco feito com madeira de pau-brasil é considerada insubstituível. De acordo com dados disponíveis, a demanda anual da espécie é de 200 m³, o que permite estimar que de 125 a 1.131 indivíduos maduros (variando de acordo com o porte) estejam sendo retirados da natureza. Mesmo constando no Anexo II da Cites, a pressão do uso da madeira da espécie pode aumentar consideravelmente com o incremento da produção industrial em larga escala a partir da entrada de países como a China no mercado. Embora o cultivo tenha sido iniciado em algumas das localidades de ocorrência da espécie, sua população não pode ser considerada estável, pois as principais ameaças (exploração e perda do hábitat) não cessaram. Para que a espécie possa ser conservada, faz-se necessária a criação de unidades de conservação (SNUC) nas áreas de ocorrência, acompanhada de fiscalização, pesquisa e manejo, norteados por um Plano de Ação Nacional para o pau-brasil.

Taxonomia atual

Atenção: as informações de taxonomia atuais podem ser diferentes das da data da avaliação.

Nome válido: Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis;

Família: Fabaceae

Sinônimos:

  • > Caesalpinia echinata ;
  • > Caesalpinia obliqua ;
  • > Guilandina echinata ;
  • > Caesalpinia vesicaria ;

Mapa de ocorrência

- Ver metodologia

Informações sobre a espécie


Notas Taxonômicas

Nomes populares: "pau-brasil", "pau-de-pernambuco", "ibirapitanga", "orabutã", "brasileto", "ibirapiranga", "ibirapita", "ibirapitã", "muirapiranga", "pau rosado", "pau vermelho", "árvore do brasil" (Lorenzi, 2002; IPEF, 2012). A espécie compreende pelo menos três ecótipos diferentes, que mostram diferença nas folhas (fórmula foliar, forma de folíolo e tamanho ) e na estrutura anatômica da madeira. Estudos genéticos recentes comprovaram essas diferenças anatômicas e morfológicas entre as subpopulações, embora até o momento nenhuma subespécie ou variedade foi oficialmente reconhecida (Fundação Margaret Mee, 1997). Popularmente essa variação é conhecida como "pau-brasil" de folha pequena, média e grande, essa última também sob o nome de "pau-brasil de folha laranja". Estudos recentes em cinco áreas de ocorrência natural de C. echinata nos Estados do Espirito Santo, Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte detectaram notável diferença genética, pois 36% da variação total foi atribuída a diferenças geográficas entre as regiões, 55% a diferença entre subpopulações dentro de regiões e apenas 8,94% entre os indivíduos de uma subpopulação (Lira et al., 2007).

Potêncial valor econômico

Construção, carvão, resina, arborização urbana; melífera; paisagismo, madeira nobre. Na época colonial era extraído um corante, muito utilizado para tingir tecidos. A madeira, de coloração avermelhada, é atualmente muito utilizada na fabricação de arcos de violinos (IPEF, 2012). É a única madeira conhecida capaz de atender as propriedades de arcos e produzir efeitos únicos, não encontrado em nenhuma outra madeira ou material. Há iniciativas de produção em plantios junto a cabruca (Julianoet al., 2010).

Dados populacionais

Estudos fitossociológicos que apresentam valores de densidade para a espécie são escassos. Peixoto et al. (2005) encontraram 37 indivíduos por hectare, em fragmento de 80 ha no Estado do Rio de Janeiro. Andrade; Rodal (2004) encontraram uma densidade de 59 ind./ha em fragmento florestal de 80,7 ha em Pernambuco. O Programa Pau-Brasil registrou 1669 árvores nativas de "pau-brasil" em subpopulações com regeneração natural esperada (Mejia; Buitrón, 2008).

Distribuição

Endêmica do Brasil nas Regiões Nordeste (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas) e Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro) (Lewis, 2012). Lira et al. (2007) reconhecem três regiões em que há maior similaridade interna e baixo fluxo genético entre elas, uma característica da história natural da espécie. Estas regiões podem ser agrupadas pelos Estados: Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco; Alagoas, Bahia e Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Situações de ameaça (Location): Rio Grande do Norte: extremo sul perto de Cabo de Touros; Paraíba (Mamanguape e Camaratuba); Pernambuco (São Lourenço da Mata até Vitória de Santo Antão, Nazaré da Mata; Alagoas: Tracunhaém, Pau d'Alho, Timbaúba, Goiana, Junqueira; Bahia: Porto Seguro, Eunápolis, Itamaraju, Barrolândia, Jussari, Ipiau; Espírito Santo: Aracruz, Caraíva, Camacã, Guaratinga, Pau-Brasil, Ubaitaba, Tapera; Rio de Janeiro: Cabo Frio, Búzios, São Pedro da Aldeia, Araruama, Iguaba, Saquarema, Itaipuaçú, Rio de Janeiro (CITES, 2007 apud Mejia; Buitrón, 2008).

Ecologia

Árvores 4-20 m alt, 15-45(-70) cm DAP (CNCFlora, 2012), semidecídua ou decídua, heliófila ou esciófila de terrenos baixos e bem drenados (Mejia; Buitrón, 2008). Floração: setembro a dezembro. Frutificação: outubro a janeiro. Floresce anualmente coincidindo com a perda total das folhas, na estação seca, durante cerca de duas semanas, a antese é diurna e a flor tem duração de um dia. Auto-incompatível de ação tardia, mas apresenta auto fertilização espontânea, por isso muitos frutos não desenvolvem sementes viáveis. Dispersão das sementes no início da estação úmida (Borges et al., 2009).

Ameaças

1 Habitat Loss/Degradation (human induced)
Incidência national
Severidade very high
Detalhes A taxa anual de desmatamento no período 2002 a 2008 foi de 457 km², restando atualmente menos de 22,25% de áreas remanescentes de Mata Atlântica (MMA; IBAMA, 2010).

1.1 Agriculture
Incidência national
Severidade very high
Detalhes Desmatamento na Mata Atlântica.

1.3.3.2 Selective logging
Incidência national
Severidade very high
Detalhes O extrativismo e exportação do "pau-brasil" ocorre há cinco séculos e resultou na perda de grandes áreas de floresta e pela escravização do povo local. O corte seletivo foi inicialmente motivado pelo corante vermelho extraído de sua madeira e teve queda com o desenvolvimento de corantes sintéticos para substituí-lo que se tornou disponível em 1875, mas o declínio dramático da população na árvore já tinha acontecido, e esses declínios continuaram até a década de 1920. Povoamentos naturais foram quase completamente destruídos, mas algumas subpopulações persistiram em algumas áreas da planície costeira, onde desde então têm sofrido pelo desmatamento. Mesmo após o corante ter sido substituído por alternativas sintéticas, a exploração da madeira continuou. A madeira é muito procurada por fabricantes de arcos de violino, devido a características únicas e ainda insubstituíveis. Não há números confiáveis sobre a quantidade de madeira exportada atualmente, mas a demanda mundial anual é superior a 200 m³. O problema é exacerbado pelo nível elevado de madeira desperdiçada durante o processamento; entre 70-80 por cento é perdido na fabricação de arcos de violino (Global Trees Campaign, 2008).

Ações de conservação

1.2.1.2 National level
Situação: on going
Observações: Presente na Lista vermelha da flora do Brasil (MMA, 2008),anexo 1.

1.2.1.1 International level
Situação: on going
Observações: "Em perigo" segundo a Lista vermelha IUCN (2011), avaliada por Varti em 1998.

1.2.1.1 International level
Situação: on going
Observações: Incluída na lista da CITES, apêndice II em 1997. Toras, madeira serrada, folheados, e na fabricação de arcos para instrumentos musicais de cordas.

4.4 Protected areas
Situação: on going
Observações: Encontrada nas seguintes unidades de conservação (SNUC): Parque das Cidades, Parque das Dunas; RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte; Estação Ecológica do Pau-Brasil, Reserva Biológica Guaribas, Paraíba; Estação Ecológica do Tapacurá, Pernambuco; Estação Ecológica Serra do Ouro, Alagoas; Parque Nacional do Pau Brasil, Bahia; Parque Estadual da Serra da Tiririca, Reserva Ecológica Estadual de Jacarepiá, APA da Serra da Capoeira Grande, Reserva Ecológica Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro.

Usos

Referências

- JULIANO, O.; FERRAZ, L.; RIBEIRO, R. A árvore da música: o futuro depende do pau-brasil, uma árvore a beira de extinção, 2010.

- FUNDAÇÃO MARGARET MEE. Conservação de Manejo do pau Brasil, Caesalpinia echinata Lam.: Plano de Ação. British Airways Assisting Conservation; The EMI Group (US and Brazil ); Earth Love Fund (UK); Theodor Nagel GmbH & Co. (Germany), 1997.

- MELO, S. C. O.; GAIOTTO, F. A.; CUPERTINO, F. B. ET AL. Microsatellite markers for Caesalpinia echinata Lam. (Brazilwood), a tree that named a country. Conservation Genetics, v. 8, n. 6, p. 1269-1271, 2007.

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- LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002.

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- IPEF. Caesalpinia echinata in Identificação de Espécies Florestais, Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Disponivel em: <http://www.ipef.br/identificacao/nativas/detalhes.asp?codigo=9>. Acesso em: 23 mar. 2012.

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- MEJÍA, E.; BUITRÓN, X. Brazilwood (Caesalpina echinata) in Brazil. NDF Workshop Case Studies, p. 1-10, 2008.

Como citar

CNCFlora. Caesalpinia echinata in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Caesalpinia echinata>. Acesso em .


Última edição por CNCFlora em 21/06/2012 - 16:24:34